El Mítico Benfica | #38 | Eleições, Reflexões e a importância do "João" (PT)

É já no próximo sábado, dia 25, que os benfiquistas tomarão uma das decisões mais importantes das últimas décadas. Escolherão novos órgãos sociais num contexto interno de grande divisão e num contexto externo de enormes desafios. Antes de falarmos sobre candidaturas e ideias, quero agradecer a todos aqueles que se envolveram neste processo: aos candidatos, que o fazem com grande esforço pessoal e financeiro - vocês sabem quem são; aos voluntários, que se dedicaram de forma abnegada a este processo, prescindindo de descanso e de tempo com a família; e aos projetos benfiquistas (podcasts, páginas, sites…) que se preocuparam em compilar e disseminar informação para ajudar os benfiquistas a tomarem as melhores decisões: a todos, muito obrigado!

Não posso deixar de notar, com grande preocupação, enquanto cidadão e benfiquista, a má cobertura noticiosa destas eleições feita pela imprensa tradicional: dando primazia a alguns candidatos, conduzindo entrevistas sem contraditório; e dificultando o acesso ao espaço mediático a outros candidatos, quase que “boicotando” entrevistas com entrevistadores que mais pareciam inquisidores do que jornalistas. Comentadores mais concentrados nas tricas do que no que era importante, comentando sempre pela rama e de forma distanciada da realidade, e recorrendo a perceções fantasiosas para não dizer encomendadas. Aprendia-se muito mais nos espaços mediáticos conduzidos por benfiquistas, do que nos espaços mais mainstream. Quanto às sondagens, terão sempre o seu interesse, mas valem de muito pouco. Será possível analisar algumas tendências, mas a verdadeira sondagem será a 25 de outubro. O Benfica é demasiado gigante e presente em todos os quadrantes da sociedade, para se medir o pulso do universo benfiquista em bolhas nas redes sociais ou em grupos de Whatsapp.

Quanto aos candidatos, temos 6. Resultado da situação em que o clube está e da vitalidade social do Benfica. Vamos por partes. Há dois candidatos que podemos excluir à partida: Cristóvão Carvalho e Martim Mayer. Cristóvão perdeu-se muito rapidamente, com promessas que podem estar cheias de boas intenções, mas que perdem credibilidade quando se explica como se quer atingir os objetivos. Ele quer contratar Klopp e ser campeão europeu em 5 anos: o PSG gasta fortunas há décadas e só o conseguiu o ano passado. Já Martim, entrou demasiado tarde na campanha: perdeu-se em acusações a Noronha Lopes por alegado roubo de ideias e transmitia a sensação de que era um “candidato queixinhas”. Encontrou o registo comunicacional certo mais tarde e apresentou algumas coisas tarde: o seu plano para o Património é interessante e a aposta em Andries Jonker revela visão estratégia; já o lado associativo revela pouca ligação com o mundo dos sócios e a ideia do Benfica Global é algo irrealista, nomeadamente nos países africanos.

Depois, temos candidatos da continuidade: Vieira é movido a ego. Já o tinha explicado aqui e reafirmo: Vieira precisa do Benfica. O Benfica precisa tanto de Vieira como um funeral precisa de uma viola. Escolher Vieira é escolher alguém que já teve o seu tempo, que teve o seu papel, mas que nunca percebeu o que era o Benfica. Tão egocêntrico e iludido, rodeou-se e continua a rodear-se de gente que só lhe diz aquilo que ele quer ouvir. O resultado de Vieira é importante para percebermos até que ponto é que os sócios perceberam os danos institucionais e reputacionais que infligiu e continuará a infligir ao clube. Que se dedique aos tribunais. Longe.

Quanto ao mandato de Rui Costa, foram 4 anos perdidos. Teve o grande mérito da revisão estatutária - fora isso, correu mal em tudo: futebol (5 treinadores em 4 anos, investimentos faraónicos e sem critério…), modalidades a perder gás, mesmo no feminino; passivo aumentou… É o representante de um “Vieirismo Suave”: é mais simpático e dialogante do que o seu antecessor, mas na prática exerce a mesma política. É o exemplo do Benfica dos últimos anos: que normaliza a derrota, que se contenta com pouco, que vive convencido de que faz tudo bem e que basta atirar dinheiro para cima dos problemas que os mesmos se resolverão por obra e graça do divino espírito santo. Foi abandonado por alguns e continua acompanhado por outros que não merecem grande credibilidade, e que vivem escondidos por trás da sombra do “Príncipe Perfeito com pés de barro”. Tinha tudo para correr bem e correu tudo mal: não aprende com os erros, nem quer aprender. Mais um investimento faraónico e temos uma equipa de futebol à deriva: estava à espera de salvar a sua presidência com “a bola que entra na baliza.” A coisa correu mal, como acontece sempre que não há visão estratégica. Apenas a ideia de que “agora é que é…”. Basta disto.

Contudo, estas eleições tiveram duas boas notícias: as duas chamam-se João e são o futuro do Benfica. Votarei em João Diogo Manteigas, mas fico descansado porque mesmo que Manteigas não ganhe, o Benfica ficará muito bem entregue com Noronha Lopes. Numa eventual segunda volta, com Noronha e Costa, votarei no primeiro sem dúvidas ou hesitações. Noronha é um grande candidato. Já o tinha sido em 2020 e volta a ser em 2025. Tem uma grande máquina por trás, voluntários dedicadíssimos e uma equipa de luxo. Contudo, há posições de Noronha Lopes que não me convencem: a explicação de não ter ido às eleições de 2021 é completamente compreensível. Fez-se à sua vida. Concorrer às eleições do Benfica não é um passatempo, é um assunto demasiado sério, que ocupa tempo. Já as explicações que deu por não ter impugnado as eleições de 2020, em que foi claramente prejudicado (ele e o Benfica), são legítimas e compreensivas, mas não concordo com elas. O que aconteceu em 2020 foi gravíssimo. Uma mancha negra. E ele fez mal em não se ter atravessado. Além disso, durante a discussão da revisão estatutária assumiu algumas posições conservadores, nomeadamente ao estar contra as listas separadas e a queda da direção em caso de chumbo do orçamento. Posições legítimas, é certo, mas que revelam pouco arrojo. Noronha é um institucionalista, um senhor. Protagonizou o momento da campanha ao partilhar a sua declaração de rendimentos: uma pena que se tenha chegado a este ponto, mas demonstrou que “os tem no sítio”. Muito competente e bem acompanhado. Como já referiu em diversas entrevistas, quer fazer uma “renovação tranquila”. Mas, neste momento, o Benfica precisa de algo mais.

Porquê o meu voto em Manteigas? Apresentou a sua campanha há um ano, quando não era popular fazê-lo. Mas, na minha perspectiva, fez bem: era importante demonstrar que o Benfica era muito mais importante do que a bola que entra ou não; e era importante ir construindo um projeto, falando com todos. E para isso é preciso tempo. E também era preciso tempo para demonstrar aos muito benfiquistas, que estão presos num “Síndrome de Estocolmo Vieirista e Costista”, que havia outro caminho. Esse caminho foi feito com base no apoio de muitos sócios: o associativismo é a base da sua campanha. E o Benfica sem os seus associados não é nada. Conhece o meio desportivo como poucos em Portugal, e conhece muito bem o futebol (Julen Guerrero foi tão bem sacado, meu Deus) e o Benfica. É capaz de falar horas sobre o clube com um conhecimento de causa que não deixa de espantar. Noronha é um institucionalista, mas Manteigas é mais disruptivo, mas nem por isso menos institucional. Manteigas é um “choque vitamínico” e o Benfica precisa de um urgentemente. Tenho em conta a encruzilhada em que o Benfica se encontra, e os vários planos que que terá de se mover nos próximos tempos, é difícil encontrar alguém com melhor perfil do que o seu. Tem uma equipa mais discreta (menos mediática) em termos de perfil, mas muito competente e altamente comprometida: basta ouvir os programas do seu canal de YouTube dedicados aos vários setores do clube. Também cometeu alguns erros: facilmente passa por arrogante, apesar de ter ido aprimorando o seu registo, e perde-se em alguns apartes sobre os seus adversários. Mas no essencial, tem feito uma campanha estupenda. Resumindo, não imagino o futuro do Benfica sem os “Joãos”: apenas acho que Manteigas e a sua equipa é o que precisamos em 2025.

Este texto é apenas uma opinião. Não é nem mais nem menos válida do que qualquer outra. Mas não me sentia tranquilo se não a manifestasse, tendo em conta o que fomos fazendo para promover o ato eleitoral. Quando em 2020 decidi voltar a ser sócio, depois de um interregno de 18 anos, foi exatamente no seguimento das eleições desse ano: porque transmitiram a sensação de que outro Benfica era possível. E as eleições de 2025 reforçaram, pelo menos assim o espero, esse sentimento.

O Benfica é paixão. É coração. Mas há momentos na vida de um clube como o nosso em que é necessário usar a razão. A 25 de outubro é dia de usar a razão. Por um Benfica dos sócios e dos títulos. Por um Benfica que cumpra o seu potencial em Portugal e na Europa. Por um Benfica que cumpra o seu destino vencedor!

PS: Para a MAG, voto lista A.